Ceteris Paribus

Condição ceteris paribus - Pedras equilibradas

SIGNIFICADO DE CETERIS PARIBUS

Ceteris Paribus é um termo latino, cujo a tradução para o português equivale a expressão: “O resto todo igual”.
 
O termo é empregado para indicar que, em um determinado cenário ou hipótese, as variáveis envolvidas permanecem estáticas.
 
Isso significa dizer que, em um cenário ou hipótese ceteris paribus tudo funciona exatamente como esperado ou planejado.
 
As variações de grafia coeteris paribus e céteris páribus são aceitas.
VISÃO GERAL

O QUE É CETERIS PARIBUS?

Ceteris Paribus é a expressão utilizada para enfatizar que, uma suposição formulada considera que nenhum imprevisto ocorrerá. Seria algo como: “Desde que nada mude, o resultado esperado acontecerá.”

O conceito ceteris paribus é empregado em diversas áreas científicas como a matemática, economia, finanças e até mesmo na linguística.

Geralmente, o princípio ceteris paribus é atribuído à:

  1. Hipóteses e previsões: Algo acontecerá se tudo mais permanecer do jeito que está ou como se espera.
  2. Condições: Para que algo aconteça tudo deve permanecer constante (igual).
  3. Experimentos: A metodologia ceteris paribus de experimento isola as variáveis que se deseja estudar e promove testes mantendo as demais exatamente como estão (constantes).

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GRAMÁTICA, TRADUÇÃO E VARIAÇÕES DA GRAFIA

Gramática

Sob a ótica gramatical, ceteris paribus corresponde a uma locução adjetiva. Portanto, o uso da expressão é feito para qualificar substantivos.

Geralmente, os substantivos qualificados são palavras equivalentes à: cenário, condição, hipótese, estimativa e previsão.

Tradução de ceteris paribus

Em se considerando a tradução literal, ceteris é traduzido como “o resto”. Já paribus equivale ao termo português “igual”. Portanto a tradução literal de ceteris paribus corresponde a expressão “o resto igual”.

Tradução Ceteris Paribus

Contudo, a tradução literal nesse caso é de pouca valia. Isso porque Ceteris Paribus é um conceito. Ou seja, a expressão trás consigo uma acepção maior do que a mera tradução isolada das palavras que as formam.

Por certo, a tradução técnica acaba por ser mais esclarecedora. De forma simples, a tradução aceita no meio científico corresponde a ideia de “tudo o mais constante”.

Para fins didáticos, alguns professores ensinam a definição de ceteris paribus resumindo-a ao bordão “em condições normais de temperatura e pressão”. É uma frase que ajuda os alunos a fixarem esse conceito.

Variações da grafia e pronúncia

Não raramente, nos deparamos com palavras latinas grafadas e/ou pronunciadas de formas diferentes.

Basicamente, isso acontece devido a existência de 3 (três) correntes diferentes do latim, são elas:

  1. Latim Clássico: Também conhecido como Latim Restaurado. É a versão que busca reconstituir a versão original da língua.
  2. Latim Eclesiástico ou Romano: É o modelo difundido pela Igreja Romana (Igreja Católica) e é, portanto, altamente influenciado pela língua italiana;
  3. Latim Tradicional: Assume as tradições do país do falante. Tanto pronúncia, como escrita, são adaptadas com base na língua do país. Geralmente é empregado com o propósito de ensino e não corresponde a versão original, no entanto é aceito pela comunidade internacional.

Dessa forma, o termo ceteris paribus pode ser encontrado em diversas versões, como por exemplo:

• Ceteris Paribus (Latim Tradicional Português)
• Céteris Páribus (Latim Tradicional Espanhol)
• Cæterīs pāribus (Latim Eclesiástico/Romano)
• Coeteris Paribus (Latim Clássico)

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HIPÓTESE CETERIS PARIBUS

A hipótese ceteris paribus é aquela em que as variáveis que determinam um resultado são conhecidas e espera-se que permaneçam como estão. Caso alguma delas se comporte de forma inesperada, a hipótese ceteris paribus deve ser descartada.

Casal conversando

Com base nas condições atuais e em experiências passadas, a personagem estima que se nada inesperado ocorrer o trajeto demandará 15 (quinze) minutos.

Entretanto, se algo for diferente do que ela imaginou, a previsão deve simplesmente ser desconsiderada.

Perceba então como utilizamos esse recurso no nosso dia a dia. A diferença é que o fazemos informalmente, sem o uso do termo ceteris paribus.

Hipótese Ceteris Paribus

Enfatizar o termo ceteris paribus em situações cotidianas pode gerar uma certa incompreensão. Afinal de contas não se trata de um termo muito conhecido. É preferível expressar nossas incertezas de outras maneiras.

Porém, em certos ambientes é fundamental a adoção de uma comunicação completa e assertiva. Se um economista prever algo baseado em um cenário constante, é muito importante enfatizar essa premissa.

O uso de expressões como: “se tudo der certo” ou “o resultado pode mudar” no meio acadêmico ou profissional, podem descredibilizar uma opinião técnica.

Visando manter a austeridade da afirmação, sem comprometer a ressalva das condições em que foram formuladas, é comum a explicitação da hipótese como sendo ceteris paribus.

"Implementando o Open Banking, a hipótese ceteris paribus é a de que o juros praticado em financiamentos reduzam cerca de 30%."

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Nesse caso, a hipótese de queda dos juros em 30%, considera somente a implementação do Open Banking. Para que essa previsão se concretize, as demais variáveis que impactam os custos dos juros devem permanecer exatamente como estão.

No final das contas, o objetivo principal dessa hipótese é de mensurar o potencial impacto nos juros pela adoção do novo modelo financeiro. Se tudo mais for constante o resultado será a referida queda dos juros.

Contudo os juros praticados no sistema financeiro são afetados por diversas variáveis. E o volume dessas variáveis é realmente grande: taxa de desemprego, patamar da SELIC, volume de captação de crédito e algumas outras dezenas.

E se o desemprego aumentar? E se a inflação disparar? Poderíamos continuar acreditando que os juros vão cair 30%? Muito provavelmente não. Fatores importantes variaram de forma não considerada na formulação da hipótese.

CONDIÇÃO CETERIS PARIBUS

A condição ceteris paribus é aquela em que um resultado é obtido desde que a normalidade seja mantida.

Assim como a hipótese ceteris paribus, a condição ceteris paribus é frequentemente adotada nos campos das finanças e economia.

"Em condições ceteris paribus o corte de juros favorece o S&P 500."

Em outras palavras, em condições normais, a redução dos juros pelo banco central americano favoreceria as empresas que formam o S&P 500.

Nesse caso, a condição ceteris paribus é explícita. O termo é expressamente citado. Já na Linguística, tal condição é pressuposta de ser implícita, ou seja, oculta, no entanto, presente.

Por exemplo, uma mensagem de confirmação para uma transação bancária:

Tela de celular exemplificando uma transação digital do Pix

Considerando a mensagem: “Ao clicar em confirmar, o Pix será enviado ao destinatário.”, poderíamos considerar que ao apertar o botão a transferência será feita?

A princípio sim. Afinal de contas esse é o objetivo do banco.

O esperado é que, se tudo funcionar normalmente, o valor será debitado da conta de origem e creditado na conta de destino. E aí fica a reflexão: “Será que algo inesperado pode ocorrer?”. A resposta novamente é sim.

O servidor do banco pode estar fora do ar, uma guerra cibernética pode derrubar a internet, o aplicativo do banco pode estar sob controle de hackers, uma série de infortúnios podem acontecer. Muito difícil, mas sim, eles podem acontecer.

O banco até poderia adequar o aviso informando sobre os míseros riscos de a operação não ser concluída. Seria essa, uma comunicação eficaz? Imagine a mensagem:

"Ao clicar em confirmar, e caso o servidor do banco esteja funcionando, nenhuma guerra cibernética acontecendo ou nenhum hacker invadir nosso sistema o Pix será enviado ao destinatário."

Estranho, não? Por esse motivo, a Linguística adota o conceito intrínseco da condição ceteris paribus.

Uma afirmação deve ser interpretada sob a perspectiva de que, o que se espera acontecer, de fato acontecerá.

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METODOLOGIA DE EXPERIMENTO

Existem basicamente três tipos de experimentos científicos:

  1. Naturais: Testam hipóteses com dados históricos obtidos de um determinado sistema.
  2. Controlados: Ocorrem em ambiente controlado. Grupos experimentais são comparados a grupos de controle.
  3. De campo: Experimentos realizados em ambientes e condições naturais, sem preparação ou adaptação prévia dos pesquisadores.

Os experimentos ceteris paribus estão abrangidos na 2a e 3a categoria.

As propostas de experimentos ceteris paribus geralmente são a de compreender como uma determinada variável se comporta ou influencia um determinado contexto.

Para isso, são definidas as variáveis que formarão o contexto, e a elas se estabelece a condição de imutabilidade. Elas ficarão constantes.

As variáveis em testes são sucessivamente modificadas/substituídas e os resultados de cada experimento registrados.

Experimento Ceteris Paribus

Dessa forma, é possível avaliar isoladamente qual a influência de cada um dos elementos testados no contexto determinado

Imagine um governo de um país que deseja ampliar o seu Produto Nacional Bruto.

Quais políticas seriam mais assertivas e eficazes para se atingir esse fim? Reduzir a carga tributária, controlar o câmbio ou investir em educação de base?

Adotar um modelo abstrato baseado em experimentos ceteris paribus pode ser uma boa solução para definir o que e como fazer.

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CONTEÚDO ACADÊMICO

ORIGEM

É muito difícil precisar a origem do conceito ceteris paribus. Não se trata de uma ideia concebida em época específica ou como reação à algum problema conhecido.

Algumas fontes remetem o surgimento desse conceito à Grécia antiga, mais especificamente ao filósofo Cícero. No entanto, não há fontes históricas que corroborem essa versão (PERSKY, 1990). Nada foi encontrado nas obras produzidas pelo filósofo ou relatadas em fontes fidedignas.

Ainda que se trate de palavras latinas, há poucas e frágeis evidências que sustentem se tratar de uma definição desenvolvida na antiguidade. Não há nos estudos das literaturas latinas da antiguidade, nenhum trabalho crível que fundamente uma linha filosófica ou literária acerca do conceito ceteris paribus.

De fato, existem evidências do uso do termo no direito romano. Contudo, é de se esperar que como quaisquer outras palavras latinas, uma hora elas aparecessem em algum escrito jurídico da época. Tanto é que, ceteris paribus não tem a mesma relevância para o direito moderno quando comparado à outras palavras latinas como habeas corpus, amicus curiae ou data venia.

PRIMEIROS REGISTROS

As primeiras observações evidentes da aplicação do ceteris paribus como um conceito propriamente dito datam da idade média.

No período Escolástico, onde discussões filosóficas começavam a dar enfoque à pobreza, era necessário estabelecer modelos abstratos que possibilitassem a análise dos fatores de miséria.

A primeira observação do ceteris paribus como um conceito é de 1295, nas obras do filósofo e teólogo francês Peter John Olivi (REUTLINGER, 2011).

Cerca de 3 (três) séculos depois, o conceito surge na literatura inglesa. O padre Thomas Wright, no livro Passions Minde (1601) enfatiza que as comparações entre as colônia rurais e os habitantes de Seatownes deveriam sem entendidas sempre sobre a perspectiva ceteris paribus.

POPULARIZAÇÃO DO CONCEITO

Economia Moderna

Na Era Moderna (séculos XV a XVIII) as ciências econômicas experimentaram significativas evoluções. Em principal, o início da transição de modelos econômicos qualitativos para abordagens quantitativas.

Importantes economistas europeus, como Francis Bacon e Thomas Hobbes, pregavam que a matemática e os sentidos deveriam ser o norte das ciências racionais.

William Petty, considerado por Karl Max o pai da Economia Política (SZMRECSÁNYI, 1999), e entusiasta das ideias de Bacon e Hobbes, desenvolveu o conceito de Aritmética Política.

A Aritmética Política empregava estatística nos estudos de fenômenos sociais e políticos, o que viria a ser uma importante base para a Economia Contemporânea.

Para fundamentar suas teses e experimentos, Petty fez uso constante de cenários ceteris paribus.

"Se um homem pode trazer para Londres uma onça de prata do Peru, ao mesmo tempo em que pode produzir um alqueire de milho, então um é o preço natural do outro; agora, se por causa de minas novas e mais acessíveis um homem pode obter duas onças de prata tão facilmente quanto antes, então o milho será tão barato a dez xelins o alqueire, como era antes a cinco xelins caeteris paribus."

William Petty, 1662

Tal conceito, primeiramente desenvolvidos por pensadores escoláticos, sem dúvidas foi elementar ao desenvolvimento dos trabalhos de Petty. A partir de então, tornou-se um importante recurso à formulação de teoremas econômicos e sociais.

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Positivismo

Certo é que, o termo ceteris paribus ganha popularidade, de fato, a partir do Positivismo, corrente filosófica francesa encabeçada por Auguste Comte.

No Positivismo somente o conhecimento científico é aceito.  Uma teoria só pode ser considerada válida se for objetivamente comprovada.

Nas ciências naturais como a física, química ou biologia, as comprovações de teorias normalmente ocorrem através de experimentos objetivos.

Já nas ciências sociais como a economia, sociologia ou finanças as teorias eram significativamente formuladas com base em observações e deduções. 

Retrato Auguste Comte

Como resultado dessa corrente, no final do século XIX (dezenove), em principal nas áreas econômicas, houve a intensificação da produção de teorias fundamentadas em abordagens matemáticas.

Pelo fato de fenômenos sociais normalmente serem influenciados por muitas variáveis e inter-relações, a dificuldade em se concluir e consequentemente provar algo era significativamente elevada. Diferente da física, por exemplo, que é uma ciência muito mais objetiva.

A velocidade de um caminhão é calculada da mesma forma que a das ondas do mar, por exemplo. Já na economia é muito mais complexo.

Calcular a elasticidade do preço do gás, envolve fatores diferentes da elasticidade de preço do chocolate.

Como provar uma teoria de variação cambial na elasticidade de preço desses produtos? A resposta é simples, “congele” todas as demais variáveis ou aplique o conceito ceteris paribus.

Quando as ciências sociais incorporam esse conceito, que por sinal já era utilizado nas ciências naturais, é que o ceteris paribus se torna mais conhecido.

Podemos atribuir a popularização do conceito ceteris paribus à publicação de 2 (duas) teorias:

  1. Teoria do Equilíbrio Geral; e
  2. Teoria Geral do Emprego, Juros e Moeda.

TEORIA DO EQUILÍBRIO GERAL

Publicada em 1874, no livro Elementos de Economia Pura de Walras (Marie-Ésprit-Léon Walras), essa teoria detalha a relação existente entre preços, ofertas e demandas em economias multimercado.

Para experimentar tal teoria, Walras estabeleceu condições ceteris paribus em suas observações. Dado que os mercados são interligados, o número de variáveis a serem consideradas no experimento eram enormes. Sendo assim, estabelecer regras de imutabilidade das variáveis foi crucial para a construção da Teoria do Equilíbrio Geral.

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TEORIA GERAL DO EMPREGO, JUROS E MOEDA

Posteriormente, em 1936, Keynes (John Maynard Keynes) publicou a Teoria Geral do Emprego, Juros e Moeda. A obra é considerada a criação da macroeconomia moderna.

Keynes desenvolveu essa teoria pouco após a grande depressão (1929).

A economia global, principalmente a americana, passava por momentos difíceis e um longo ciclo recessivo.

Na teoria proposta por Keynes, contrapondo as ideias de economistas clássicos, a redução salarial não necessariamente resultaria em mais contratações. Para a economia clássica, a relação emprego e empregador era uma relação mercadológica como outra qualquer. Sendo assim, trabalhadores cobrando menos estimulariam as empresas a contratar mais.

A tese apresentada por Keynes evidenciava que a contratação de mão de obra se dava pela expectativa de venda e consequentemente de produção. No entendimento dele, em ciclos recessivos, a ação dos governos era condição sine qua non à recuperação da economia.

Além disso, Keynes defendia que as autoridades monetárias deveriam trabalhar na redução dos juros de longo prazo para estimular investimentos produtivos.

Muitas dessas conclusões foram fundamentadas em modelos abstratos que trabalhavam com variáveis constantes (ceteris paribus).