O EBITDA é um dos indicadores de performances mais populares do mercado financeiro.
Essa ampla aceitação, se deve basicamente a 3 (três) características:
- Simplicidade: É um indicador fácil de calcular. A fórmula é simples e os dados necessários ao cálculo são relativamente acessíveis.
- Alta adesão: O EBITDA é um indicador valorizado por uma parcela significativa de stakeholders.
- Neutralidade: A fórmula do EBITDA neutraliza os efeitos de juros e impostos, elementos sensíveis a questões geopolíticas. Dessa forma, o EBITDA provê certa isonomia aos números, possibilitando comparações de performances entre negócios instalados em diferentes jurisdições.
Ao longo dessa seção, trataremos dos aspectos elementares do EBITDA. Ao final, apresentaremos o passo a passo de um cálculo, baseado em dados reais.
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O QUE É EBITDA?
O EBITDA é um indicador de performance financeira, calculado com base nas demonstrações contábeis de uma organização.
A principal proposta do EBITDA, é identificar o potencial de geração de caixa das operações de uma empresa. Não se trata de um indicador exato, entretanto, o seu resultado costuma ficar próximo ao FCO (Fluxo de Caixa Operacional).
Mas aí você pode se perguntar: “Se não é um indicador exato, por que ele é tão popular?“
Para responder essa pergunta, precisamos primeiramente, fazer uma distinção entre os usuários do EBITDA.
Existem os usuários externos, aqueles que não fazem parte do dia a dia da empresa, e os usuários internos: representados pelos administradores e colaboradores da organização.
Do ponto de vista do usuário externo, é preciso considerar que o Demonstrativo de Fluxo de Caixa Operacional (FCO), não é algo tão acessível. O FCO traz consigo, informações estratégicas do negócio. Nenhuma empresa gosta de divulgar esses dados. Via de regra, as que divulgam, são obrigadas a fazê-lo por alguma exigência legal.
Indiscutivelmente, quando disponível, o FCO é uma fonte de informações mais detalhada e consequentemente mais valiosa do que o EBITDA. Contudo, dado ao baixo volume de empresas que disponibilizam o FCO ao público, a comparabilidade de performances fica muito restrita. Na prática, o analista só consegue comparar o Fluxo de Caixa Operacional de empresas que são obrigadas a divulgá-lo.
Por esse motivo, e por ser relativamente próximo ao FCO, o EBITDA se torna uma alternativa satisfatória. Ao adotar o EBITDA, ao invés do FCO, o analista consegue agregar um número maior de empresas em sua análise.
Normalmente as análises comparativas do EBITDA são segmentadas em grupos, observando similaridades entre as empresas, como:
- Segmento
- Porte
- Localização
- Idade
Considerando as perspectivas dos usuários internos, o FCO é uma demonstração que demanda tempo para ser elaborada. No mundo corporativo, as decisões não podem demorar muito. Quanto antes as informações estiverem disponíveis melhor.
Sendo assim, os executivos de uma organização costumam analisar o EBITDA como uma prévia aproximada do FCO.
Não obstante, não podemos ignorar o fato de que o mercado financeiro é ávido pela divulgação do EBITDA das organizações. Os executivos precisam saber de antemão, o que será divulgado, até para prever as reações do mercado.
ORIGEM DO EBITDA
O EBITDA surgiu no Estados Unidos, por volta dos anos 60.
Agentes do mercado financeiro buscavam uma forma rápida e segura de identificar negócios atrativos. Primeiramente surgiu o EBIT (Earnings Before Interest and Taxes).
O EBIT possibilitava a análise rápida da performance das empresas, desconsiderando os ganhos e perdas das estruturas financeiras que sustentavam as operações. Ao excluir os efeitos da tributação sobre os lucros, o EBIT neutralizava diferenças entre negócios, relacionadas a legislações tributárias. Dessa forma, era possível isolar o resultado das operações, e avaliar a qualidade da administração dos negócios.
Ao passo que o EBIT ganhava mais adeptos, percebeu-se que, ao excluir a depreciação e amortização, o resultado se aproximava do Fluxo de Caixa Operacional da organização. Tanto depreciação quanto a amortização são despesas econômicas, não exigem saída de caixa.
Até então, EBIT e EBITDA eram indicadores mais restritos as casas de análises e profissionais de investimentos. A partir da década de 80, com a escalada de transações de IPO e M&A, o EBITDA conquistou um público maior e se consolidou com um dos indicadores mais populares do mundo.
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FÓRMULA DO EBITDA
A fórmula do EBITDA é muito simples.
Em suma, é uma mera conciliação do resultado (lucro ou prejuízo) de uma entidade.
O EBITDA é representado pela seguinte fórmula:
A partir do resultado do período, são excluídos os seguintes efeitos:
- Juros (passivos e ativos);
- Tributos sobre o Lucro; e
- Depreciação e Amortização.
CÁLCULO PRÁTICO DO EBITDA
Agora que você já sabe o que é o EBITDA e conhece a sua fórmula, vamos calculá-lo.
Para esse exercício, vamos calcular o EBITDA de 2020 da Natura (consolidado).
Primeiramente, precisaremos obter os dados para o nosso cálculo. No caso, precisaremos das Demonstrações Contábeis Consolidadas da Natura de 2020.
Como a Natura é uma companhia de capital aberto, suas demonstrações são públicas. Você consegue localizá-las de 3 (três) formas:
- No portal de Relação com Investidores da Natura;
- Você pode baixar o arquivo no site da CVM (Comissão de Valores Mobiliários);
- Por ser uma empresa listada na Bolsa de Valores, você também encontra essas informações no site da B3.
Com as Demonstrações Contábeis em mãos, o próximo passo é localizar a Demonstração do Resultado do Exercício (DRE).
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Na DRE encontraremos quase todas as informações necessárias ao cálculo.
Conseguimos identificar:
- Lucro ou Prejuízo Líquido do Exercício – Earnings;
- Resultado Financeiro (Juros) – Interest; e
- Imposto de Renda e Contribuição Social – Taxes.
Note que, em nosso cálculo, os Juros (Interest) estão representados pelo Resultado Financeiro Líquido. Parece estranho a princípio, pois o resultado financeiro comporta outros eventos além dos juros, como variação cambial e tributos sobre operações financeiras.
Mas você concorda que eles também impactam a estrutura de capital da empresa? Por esse motivo convencionou-se utilizar o resultado financeiro no componente “Juros” da fórmula do EBITDA.
Seguindo o cálculo, precisaremos agora do valor de Depreciação e Amortização. Ambos não estão explícitos na DRE.
Essas informações estão distribuídas entre os grupos de despesas e custos. Portanto, é necessário obter essas informações nas Notas Explicativas.
Agora, que temos todas as informações, podemos aplicar a fórmula do EBITDA:
Embora a Natura tenha apurado prejuízo em 2020, seu EBITDA foi positivo.
Uma análise mais criteriosa nos leva a concluir que a operação consolidada da Natura gera caixa positivo. Porém, em 2020 a empresa acabou destruindo valor (prejuízo).
Os principais vilões foram:
- Despesas financeiras: O gerenciamento de capital, consumiu mais de R$ 1 bilhão no ano; e
- Amortização e Depreciação: Embora não sejam despesas que exijam caixa, ambas indicam a necessidade de investimentos futuros em CAPEX. O EBITDA apurado até seria suficiente para financiar esses investimentos, mas não seria capaz de arcar com os custos da estrutura de capital (R$ 1 bilhão).
A análise aqui é superficial, precisa de mais informações e avaliar outros indicadores. Todavia, é um ponto de partida para o analista construir seus questionamentos e buscar respostas.
- A Natura pretende renegociar suas dívidas?
- Tem muita dívida em dólar? Houve um aumento abrupto da cotação?
- Como a empresa pretende manter sua planta atualizada? De onde vai vir o dinheiro?
O analista poderia comparar o EBITDA da Natura com o da Boticário, por exemplo. Entender as diferenças, nos números e nas estratégias, e avaliar qual empresa representa uma boa oportunidade de investimento.
Agora que você já se familiarizou com o EBITDA, que tal explorar o assunto de uma forma mais profunda? Continue conosco em nossa seção “Conteúdo Profissional”, lá falaremos de tópicos mais avançados, como por exemplo:
- Situações em que o EBITDA é utilizado;
- As variações e indicadores derivados do EBITDA;
- Uso do EBITDA em valuations;
- Normas e regulamentações; e
- Pontos de atenção e limitações do indicador.